''Logo o Verbo de Deus lançou-se fora dos elementos postados embaixo para esta pura região da natureza que acabava de ser criada, e se uniu ao Noûs demiurgo(pois era de mesma substância) e, por esta razão, de forma a nada mais ser que simples matéria. Porém o Noûs demiurgo, conjuntamente com o Verbo, envolvendo os círculos e fazendo-os girar zumbindo, coloca desta forma em ação o movimento circular de suas criaturas, deixando-as fazer a sua revolução segundo um começo indeterminado até um término sem fim, pois começa onde se acaba. E esta rotação dos círculos, segundo a vontade de Noûs, produziu, tirando-os dos elementos que se precipitavam para baixo, animais irracionais ( pois não mantinham o Verbo próximo de si), o ar produziu os voláteis e a água, os nadadores. A água e a terra foram separadas uma da outra, segundo a vontade de Noûs, e a terra fez sair de seu próprio seio os animais que em si mesma retinha, quadrúpedes e répteis, bestas selvagens e domésticas.
Ora o Noûs, Pai de todos os seres, sendo vida e luz, criou um Homem semelhante a ele, pelo qual sentiu tanto amor como se fora seu próprio filho. Pois o Homem era muito belo, reproduzindo a imagem de seu Pai: pois é verdadeiramente de sua própria forma que Deus tornou-se amoroso e legou-lhe toda as suas obras. Ora, assim percebeu a criação que o demiurgo fizera no fogo, o Homem quis produzir, também, uma obra e o Pai deu-lhe permissão. Entretanto então na esfera demiúrgica, onde deveria ter plenos poderes, percebeu as obras de seu irmão e os Governadores apaixonaram-se por ele e cada um deu-lhe parte de sua próprio magistratura. Tendo então aprendido a conhecer sua essência e tendo recebido participação de sua natureza, quis atravessar a periferia dos círculos e conhecer a potência daquele que reina sobre o fogo.
Então o Homem, que tinha pleono poder sobre o mundo dos seres mortais e animais sem razão, lançou-se através da armadura das esferas e cortando seu envoltório fez mostrar à Natureza de baixo, a bela forma de Deus. Quando ela o viu, ele que possuía em si a beleza insuperável e toda a energia dos Governadores aliada à forma de Deus, a Natureza sorriu de amor, pois tinha visto os traços desta forma maravilhosamente bela do Homem se refletir na água e sua sombra sobre a terra.
[...]
E esta é a razão porque, de todos os seres que vivem sobre a terra, o homem é o único que é duplo, mortal pelo seu corpo, imortal pelo Homem essencial.''
Hermes Trismegistos - Corpus Hermeticum
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