segunda-feira, 19 de outubro de 2009


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As investigações de Giordano sobre a esfericidade da Terra e o sistema heliocêntrico, embora importunassem os dogmas contrários, não faziam mais que acelerar o inevitável processo geral a que conduziam os recentes estudos cartográficos e astronômicos. Centenas de sofismas foram inventados para apoiar a posição daqueles que, cem anos atrás, tinham sustentado que a Terra era plana. Dizia-se que tal tinha obedecido a fins religiosos que não podiam ser divulgados, e que a ciência continuava a ser filha do Diabo e contrária a Deus.
Mas a teoria da ''vida noutros mundos'' era fatal para o dogma central referente a Jesus como único Filho de Deus, e à Igreja, sua única representante. Porque se a Terra não era mais que um minúsculo grão de pó cósmico no meio de milhões de outros semelhantes, igualmente povoados e, por conseguinte, benditos por Deus tal como ela, como sustentar que Deus tinha encarnado neste único lugar, e que o homem era o único ser inteligente ao dom do espírito imortal? E se Deus também tinha estado noutros mundos, haveria outras Igrejas? Além disso, se Deus tinha encarnado em distintos pontos do Universo, em distintas épocas, o que O proibia que i tivesse feito em tempo passados em diferente lugares da Terra, e que voltasse a reencarnar outras vezes no futuro?
Este era um verdadeiro golpe de misericórdia. Alguns filósofos, depois de ouvir Giordano, começaram a procurar com afinco os tratados platônicos e herméticos originais, para os compararem com as ciências atuais.''

O Alquimista - Jorge Angel Livraga

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